A Pesca Desportiva: 03/11/2007

A Pesca Desportiva

Blog de pesca desportiva. Muitos dos temas foram publicados em sites de pesca desportiva.

sábado, 3 de novembro de 2007

A minha iniciação à pesca

Quando nos anos 80 me iniciei na “pesca de lazer”, unicamente “surfcasting”, a forma e a maneira de estar nesta actividade desportiva tinha outro sentido em correspondência com o passado e o que viria a suceder no futuro.
Desde a minha meninice que alguns dos meus amigos de brincadeira eram já iniciados nesta actividade de lazer.
Tudo começou no nosso habitual local de encontro de fim de tarde, a oficina do Sr. João sapateiro, que ficava por detrás da estação da CP de Sintra do lado da passagem de nível, era pai do Sr. Carlos que durante anos trabalhou na loja Brancana em Sintra, ele aparecia por lá ao fim da tarde para ajudar o pai.
Neste local reuniam-se miúdos das redondezas, talvez mais de duas dezenas das mais diversas idades.
Naquele tempo os momentos de lazer eram consumidos a jogar à bola em plena rua ou junto aos armazéns da CP, conduzindo os famosos carros de rolamentos, a brincar aos cowboys e aos índios, ou numa amena conversa lá pela oficina, e foi assim que muitos começaram a ir à pesca com o Sr. Carlos, na foto, uma forma de a miudagem não enveredar por caminhos estranhos como ele ainda hoje diz.

Esta foto pode ser encontrada no seguinte endereço, propriedade de um grande pescador de Sintra, Pesca em Sintra, agradeço ao Luís Batalha a sua cedência.
No entanto só em 1980, já adulto, fui atraído para esta actividade lúdica, então comprei o meu primeiro material que ainda hoje me acompanha nas poucas idas à pesca.

Comprei então um canelon da marca “Sportex” com 5,50 metros de comprimento, uma cana ligeira de que já não distingo a marca, e dois carretos da marca “Mitchell” os modelos 498 e 4470, material de ataque, sendo eu muito cuidadoso consegui chegar até agora com estas relíquias em condições de levar à pesca com as peças compradas à menos anos. Não devemos esquecer de juntar a este primeiro material uma parafernália de outros acessórios indispensáveis e, a outros menos úteis, como os anzóis, os destroce dores, as chumbadas, bóias, amostras, etc..

Com o conhecimento até então adquirido fui percebendo que para se pescar nem tudo o que se vai comprando é estritamente necessário.
No entanto, só em 1982 a “paixão” por esta actividade de lazer tomou posse dos meus momentos livres, não na totalidade, felizmente.

À altura com dois colegas de trabalho, o Fernando e o Rui, em companhia do meu irmão Carlos, saíamos ao fim de semana, ora ao Sábado ou ao Domingo, raramente os dois dias, e por vezes durante a semana ao fim da tarde, como trabalhávamos por turnos e no mesmo turno, lá íamos em digressão pelos diferentes pesqueiros desde Cascais à Praia de S. Julião, eram nossas a Azóia, o farol da Roca, Adraga, praia Grande e Pequena, Aguda, Samarra, S. Julião e pelo meio os inúmeros pesqueiros que ficam perto destas praias. É destas digressões que hoje sinto saudades, era espectacular estar lá em baixo e ver cá em cima o Farol da Roca, todo aquele silencio que nos rodeia, chegar à Aguda ou à Samarra ainda de madrugada com a humidade e o frio a penetrar-nos através da roupa o corpo, mas valia pelo silencio e pelo peixe que se apanhava, umas vezes sim outras não, mas valia sempre a pena.

O meu primeiro “peixão” foi capturado no “lajão” da praia da Aguda, em Sintra, numa manhã de Primavera, eu e o meu irmão, levantamo-nos de madrugada como era hábito nestas investidas de pesca, ainda o sol não despontava, e já nós descíamos as sempre incomodas escadas da Aguda.

Chegados lá abaixo, como éramos os primeiros, rumamos para a esquerda da praia em direcção ao “lajão”, nesse dia coberto de areia, e formando um areal dentro e fora de água, com um bom fundão para se colocar a isca.

Aparelhei a minha “Sportex” à qual casei o “Mitchell 498” cheio de 0,45, na época era assim fios grossos, um anzol 2/0 para robalos que cravei num rabo de sardinha fresca comprada na praça ao “pardelhas” a 50 escudos o quilo, uma pechincha. Mas era assim, a isca que me acompanhava sempre, naquele tempo, era a sardinha, por um lado era barata, por outro era e é, quanto a mim ainda hoje, o melhor isco. Com isto não quer dizer que não levasse outro, mas em pequena quantidade, liras de lula, buxo de polvo, umas amêijoa, coisa pouca. Por vezes apanhávamos “tiagem” mas eu nunca fui grande espingarda a iscar com tiagem, pelo que desistia cedo.

Bem por fim lá fiz o meu lançamento ainda o dia não tinha clareado. Entretinha-me a empatar uns anzóis, quando surgiu um ruído intenso das gaivotas a grasnar intensamente sobre o mar, logo de seguida senti uma enorme chicotada da ponteira do canelon, seguido de um desenrolar desenfreado da linha do carreto, de seguida repete-se tudo de igual modo. Levantei-me com o coração bastante acelerado, e começo a recolher a linha.

De principio tudo bem lá fui dando à manivela do carreto, mas sempre cada vez mais pesado, até que tinha de ajudar recuando e avançando rapidamente enquanto enrolava a linha até que o monstro chegou finalmente a terra firme. Afinal não era assim tão grande quanto parecia, andava pelos dois quilogramas. Este dia vou sempre recordar com imensa saudade .

O aparelho era sempre o mesmo, linha de diâmetro 0,45 mm ou mesmo 0,50 mm, uma laçada dupla e dois nós, estralho a trabalhar entre estes dois nó, baixada de 1 metro a 1,5 metros, e por último anzol 2/0 com a bela sardinha cortada ao meio, uma vez iscava-se o rabo na outra vez a cabeça.

No fim passava-se por dentro da argola da chumbada de 120 a 150 gramas a laçada final.

Durante muito tempo, digo mesmo desde sempre, o meu isco preferido foi e será sempre a sardinha.

Não quero dizer que não use qualquer outro isco, como ganso, coreano, casulo, amêijoa, lula, etc..

A sardinha servia para todo o tipo de pesca, quer cortadas ao meio, em filetes, cortada ás postas, etc., para apanhar os robalos, safios, ou sargos.

Em 1986, apanhei na praia da Adraga, do lado esquerdo junto ao arco, um baila e uma raia, ambos com cerca de 1,5 quilogramas, com o mesmo isco de sempre, a sardinha.

Entretanto a vida foi sofrendo alterações na disponibilidade de cada um, todos havíamos casado, e as novas responsabilidades fizeram com que o grupo se desfizesse, a amizade não, e cada um passou a ir menos vezes à pesca.

Ainda fui algumas vezes com o meu irmão. No entanto ultimamente tenho ido sozinho ou com outros amigos, ou nas férias, mas poucas vezes.

Quando vou sozinho opto por pesqueiros de praia, praia da Adraga, ou procuro a companhia de um amigo para pesqueiros mais difíceis onde não se deve ir sozinho.

Na primavera vou ver o pôr–do-sol à praia da Adraga, pois como, sou funcionário municipal e tenho horário de plataforma fixa posso sair uma vez por outra ás 16,30 horas, o que na primavera com os dias a crescer e a mudança de horário me permite estar à pesca cerca 5 a 6 horas, incluindo algum tempo nocturno.

Outras vezes lá tiro um sábado ou um domingo para desafiar um amigo para uma surtida até à praias da Aguda, de Samarra, de S. Julião ou mesmo pesqueiros mais complicados como Cavalinhos, ou a Ribeira da Mata, etc..


Mas já nada é como dantes, em que víamos nascer o sol e o sol a pôr-se, por vezes na solidão de um qualquer pesqueiro surgia o ruído de uma qualquer aeronave a cortar o mesmo, numa qualquer praia desta costa atlântica no litoral sintrense.

PESCA DE ARRASTO COM GANCHORRA

A Ganchorra é uma arte de arrasto, rebocada por uma embarcação perto da costa ou por pescadores na zona de maré, destinada á captura de moluscos bivalves.
É composta por uma armação metálica dotada de um pente de dentes na parte inferior à qual está ligado um saco de rede.
A pesca com ganchorra pratica-se de norte a sul, no zona sul do país pratica-se entre Vila Real de S. António a Sagres, utilizando:

Pescador na apanha de bivaldes com ganchorra

  • O arrasto de cintura ou arrasto de cinta é uma draga manual, utilizada em zonas de areia, na maré baixa, constituída por um cabo de madeira, uma cinta e uma armação em ferro, com uma pá na parte inferior, a qual possui um saco de rede;

Ganchorra manual

  • O arrasto de popa ou Vara que é uma arte de arrasto pelo fundo, rebocado com uma embarcação. É constituído por uma estrutura formada por dois patins metálicos ligados a uma vara de madeira ou de ferro, a qual tem entralhado um saco de rede;

O arrasto de mão ou arquim que é composto por uma vara de madeira e por um aro de arame, que tem entralhado um cone em rede. É utilizado nos bancos de areia durante a maré baixa, a partir da praia.

Barco de arrasto com ganchorra

Esta arte de arrasto está devidamente regulamentada por vários decretos:


Decreto Regulamentar n.º 43/87 de 17-07-1987,

Decreto Regulamentar n.º 45/87 de 17-07-1987,

CAPITULO VIII

Pesca com ganchorra

Artigo 33.ºDefinição da arte

1. Entende-se por ganchorra uma arte de arrastar, destinada à captura de moluscos bivalves, constituída por uma armação metálica com um pente de dentes ou com um varão ou tubo cilíndrico na parte inferior, à qual está ligado um saco de rede que serve para a recolha dos bivalves.

2. A ganchorra poderá ser promovido com uma grelha de barra paralelas soldadas à parte inferior da armação e dirigida ao interior do saco.

Na legislação que regulamenta a área e limites de pesca, onde se exercer a pesca de bivalves, podemos ver os limites de profundidade e a distância da costa onde se pode pescar.

Portaria n.º 149/92 de 10 de Março,

Artigo 5.º

Limites interiores das zonas de operação

Os limites interiores das zonas de operação referida no artigo anterior são definidos pelo batimétro dos 3 metros na baixa-mar, dos 4,5 metros na meia-maré e dos 6 metros na praia-mar.

Portaria n.º 1102-E de 2000, de 22-11-2000,

Artigo 12.º,

Limites interiores das zonas de operação

1. O exercício da pesca com ganchorra rebocada por embarcação só é permitido em profundidades superiores a 2,5 metros.

2. Sem prejuízo do disposto no número anterior, a pesca com ganchorra rebocada por embarcação não pode ser exercida a menos de 300 metros da linha de costa em áreas concessionadas, durante a época balnear.

No campo ambiental temos que o uso da ganchorra, ou qualquer outra arte de arrasto, quando arrastado pelo fundo, destrói os habitats das espécies bentónicas, afectando também a produtividade das outras espécies.

Os habitats costeiros são um local fértil e propicio ao acasalamento, reprodução e crescimento de muitas espécies de espécies de peixes e bivalves.

Ao destruirmos os habitats costeiros, destruímos uma das maiores fontes de peixes que consumimos.

As ganchorras, as redes de arrasto e equipamentos semelhantes são os grandes responsáveis pela destruição que se verifica em praticamente todas as zonas pesqueiras, matando, esmagando, enterrando ou expondo aos predadores as criaturas marinhas que ai vivem.

Não existem sítios a salvo de técnicas de pesca destrutivas, como o arrasto.

Dei realce a esta arte, transcrevendo os pontos que considerei de maior relevo, a nível legislativo, para a análise do que não é, ou eu considero não ser, cumprido pelos pescadores profissionais.

No fim do verão passado, escrevi uma crónica de férias, em que expunha que durante a minha estadia na região de Tavira, com as visitas diárias á praia da Manta Rota, tinha constatado que a recolha de bivalves através do arrasto me parecia estar a ser praticada dentro da legalidade, por a distância do arrasto em relação á costa, quanto a mim, não estar a ser cumprida. Após ler a legislação fico mais convencido de que tinha e, tenho razão, claro que não posso provar porque não fiz qualquer medição, a não ser o cálculo feito à vista na minha perspectiva visual.

Todos nós pescadores de lazer, temos visto que em muitas ocasiões os diferentes barcos de pesca estão tão próximo da costa que duvidamos da sua própria segurança, e por isso muitas vezes encalham pondo em risco as vidas dos pescadores profissionais e dos profissionais que têm de fazer o salvamento, tal como todos os anos vem noticiado nos nossos órgãos de comunicação social.

Constatei que para algumas destas artes utilizadas a partir da própria praia, nomeadamente, na arte do arquim. Que todos os anos se vêm na maré-vazia realizar este trabalho.

Mas, a situação mais alarmante que me chamou à atenção, foi a de durante cerca de quinze dias de idas à praia, nunca se me deu ver um elemento da autoridade marítima, quer a pé quer um barco de guerra, para fiscalizar tal ou, tais actividades.

Perguntarão o porquê deste artigo, não mais do que trazer até vós o conhecimento de uma arte de pesca profissional que bem cumprida servirá de pão a muita gente, mas a fuga á legislação poderá trazer grave instabilidade ao meio marinho podendo chegar ao desaparecimento das espécies em causa.
Todos nos lembramos dos problemas causados pelos barcos espanhóis no passado devido á pesca ilegal.
No entanto ao lermos alguns dos muitos artigos consultados por mim, poderemos constatar de que existe por parte dos serviços que fiscalizam esta pesca uma tentativa de controlar, através da monitorização, da calibragem e, sensibilização dos pescador para a necessidade da preservação das espécies.
Tudo isto não se refere unicamente ao sul de Portugal, mas sim, a todo o país.

Os dados foram recolhidos nos sites: